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O bullying, termo inglês que não tem tradução exata em nossa língua, caracteriza uma situação em que uma pessoa é intimidada, humilhada ou agredida por um indivíduo ou por um grupo. Essas atitudes agressivas podem ser físicas ou não, mas são cruéis e causam dor, angústia e sofrimento às suas vítimas.
“Aportuguesando”, podemos associar à palavra “bulir”, que, também, significa “implicar com, caçoar de, mexer com”... Exemplo da expressão: “Vive bulindo com os colegas da escola.” O “viver bulindo...” pode caracterizar o bullying.
Discussões ou brigas ocasionais não são bullying. O bullying é caracterizado pelos seguintes critérios:
- A intencionalidade do comportamento, ou seja, quem pratica o bullying tem o objetivo consciente e deliberado de maltratar uma pessoa, colocando-a sob tensão, para manter o controle sobre a mesma.
- O comportamento é conduzido repetidamente, ao longo do tempo, isto é, não é um fato isolado: torna-se uma prática regular.
O bullying é um fenômeno mundial, que atinge todos os estratos sociais e pode ocorrer em qualquer lugar onde existam pessoas em convivência, como os locais de trabalho, de lazer, a internet, instituições religiosas, instituições militares, entre outros. Contudo, é principalmente no ambiente escolar que o bullying está mais presente.
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São várias as situações que configuram a prática do bullying, podendo envolver ações físicas, verbais, materiais, morais, psicológicas, sexuais, virtuais, dentre outras.
· Ação física: empurrar, socar, chutar, beliscar, bater;
· Ação verbal: provocar com apelidos depreciativos, xingar, insultar, zoar, usar de sarcasmos;
· Ação material: destroçar, estragar, furtar, roubar, extorquir;
· Ação moral: difamar, disseminar rumores, caluniar, divulgar os segredos;
· Ação psicológica: ignorar, excluir, isolar, perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, tiranizar, chantagear, manipular, ameaçar, discriminar, ridicularizar, humilhar;
· Ação sexual: assediar, insinuar, induzir, abusar, violentar;
· Ação virtual (ou cyberbullying): invadir a privacidade, divulgar imagens, criar comunidades, enviar mensagens difamatórias ou ameaçadoras, fotos, vídeos por celular ou computador, que causem sofrimento psíquico ao outro.
Todas as formas de agressão que configuram o bullying são graves!
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Não há tipo pior de agressão no bullying. Sejam ações físicas, verbais, morais, materiais, psicológicas, sexuais, virtuais... todas elas são graves e têm efeitos nocivos aos alvos do bullying. As consequências podem ser variadas, mas o bullying sempre causa dor e sofrimento às suas vítimas!
O bullying escolar.
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Estão equivocados aqueles que consideram que o bullying no período escolar é algo perfeitamente normal, uma atitude típica da idade. Alguns chegam a afirmar que o bullying escolar é um rito de passagem, necessário para preparar o infante para a vida adulta.
É importante, para todos, que fique bem claro que não há nada de positivo no bullying: essa prática é maléfica para todos os envolvidos!
Os envolvidos no bullying escolar.
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Dentre os alunos envolvidos com o bullying definimos 4 perfis:
- Alunos agressores: são aqueles que praticam o bullying com os outros. Alguns textos os denominam “bullies”, mas optamos por não nos referirmos a eles pela referida expressão, para evitar termos estigmatizantes.
- Alunos agressores/alvos: praticam e sofrem o bullying.
- Alunos alvos: são os alunos que sofrem o bullying.
- Testemunhas: não praticam, nem sofrem o bullying, mas presenciam o fato. Muitas vezes, silenciam-se, sem ajudar a vítima.
Os alvos do bullying.
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Para vítima, a prática do bullying é uma tortura cruel e sutil. Algumas pessoas que sofrem com esse tipo de violência sentem as consequências por toda vida: o bullying deixa cicatrizes!
Geralmente, os alvos do bullying sofrem discriminação. São escolhidas por características que a diferencie de seus agressores. O alvo costuma ser quem o grupo considera diferente, seja por sua situação socioeconômica, idade, características físicas, características de personalidade (tímidas, introspectivas, intelectuais...), etnia, religião, orientação sexual, etc. Quem sofre o bullying é perseguido, humilhado, intimidado, ignorado ou excluído.
A vítima do bullying sofre por não se ajustar aos estereótipos impostos pelo grupo. Sentem o peso da rejeição, do isolamento, da humilhação. São privadas de seus direitos, tolhidas em sua liberdade. Infelizmente, o bullying é muito comum nas escolas e suas vítimas, muitas vezes, silenciam-se, envergonhadas e constrangidas. Apresentam baixa autoestima. Não pedem ajuda e são o principal alvo dos apelidos, gozações e exposição ao ridículo. Algumas chegam a concordar com a agressão, achando-se merecedoras, por causa de seu sentimento de “menor valia”. Calam-se frente ao sofrimento, que passa, muitas vezes, despercebido pelo professor. Por isso, é importante que a equipe escolar esteja preparada para identificar os indícios que o bullying esteja ocorrendo entre seus alunos.
Alguns motivos que justificam o silêncio dos alvos do bullying:
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- vergonha e constrangimento;
- autoimagem destruída pelo sentimento de incompetência, “menor valia” e merecimento dos ataques;
- medo de represálias e de que os ataques se tornem mais intensos se delatarem os agressores;
- quando se queixam aos adultos, encontram falta de apoio e de compreensão;
- temor da reação dos familiares;
- receio de serem ainda mais ridicularizadas ou consideradas culpadas pelos ataques.
Consequências para os alvos do bullying.
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Para a vítima do bullying, as consequências podem ser diversas, entre elas:
· baixo autoestima;
· tristeza;
· ansiedade;
· dificuldade no relacionamento escolar, timidez, isolamento;
· dificuldade de aprendizagem, diminuição do rendimento escolar;
· absenteísmo e evasão escolar;
· depressão;
· agressividade;
· apatia;
· medo;
· angústia, sensação de aperto no coração;
· autodestruição;
· choro constante;
· perturbações no apetite, como falta de apetite, apetite voraz, anorexia e bulimia;
· vômitos;
· dores constantes, como dores de cabeça, dores de estômago e dores não-especificadas;
· episódios de pânico;
· perturbações no sono, como insônia, pesadelos, medo do escuro, terror noturno;
· aumento do pedido de dinheiro aos familiares;
· dificuldade de concentração;
· nervosismo;
· dificuldade de memorização;
· enurese;
· mudanças súbitas de humor;
· estresse;
· sentimentos negativos;
· problemas interpessoais;
· sentimento de vingança;
· tornarem-se autores do bullying;
· ideações suicidas.
Os problemas que a vítima do bullying pode enfrentar são variados e dependem muito de cada indivíduo: de sua estrutura psíquica, suas vivências, seu meio de apoio, etc. No entanto, todas (em maior ou menor intensidade) sofrem os efeitos do bullying e muitas levarão para sua vida adulta, as marcas das agressões vivenciadas. As vítimas de bullying podem recorrer ao abuso de álcool e drogas, provocar automutilação e, de forma extrema, chegar ao suicídio ou a atos de violência contra outras pessoas.
Sinais que podem indicar a vitimização pelo bullying.
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São indícios de que uma criança ou um adolescente está sofrendo o bullying:
· resistência em ir à escola;
· inventar desculpas para faltar às aulas;
· pedir para trocar de escola constantemente;
· sentir-se mal na hora de sair de casa para a escola;
· apresentar postura retraída na sala de aula;
· excesso de timidez, sentir-se, constantemente, envergonhado;
· apresentar-se, constantemente, triste, deprimido, ansioso ou aflito;
· ficar isolado no recreio;
· não participar dos jogos e brincadeiras ou serem, frequentemente, os últimos a serem escolhidos pelas outras crianças/adolescentes;
· ter poucos amigos (ou nenhum);
· não gostar de si mesmo, não se valorizar;
· não ser convidado ou não querer participar das festas escolares, viagens com a turma;
· voltar da escola com roupas e/ou materiais danificados;
· apresentar, constantemente, hematomas, arranhões, machucados;
· desaparecimento de material escolar;
· furtar objetos de casa;
· atos deliberados de autoagressão;
· ficar assustado, nervoso ou agressivo sem motivo aparente.
Crianças e adolescentes que praticam o bullying.
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Quem pratica o bullying também apresenta uma imagem pessoal abalada, teme o diferente e sente a necessidade de se autoafirmar. Geralmente, demonstram intolerância, arrogância e dificuldade de se colocar no lugar do outro. As crianças e os adolescentes que praticam o bullying têm o prazer em humilhar, constranger, difamar, menosprezar, excluir, controlar e dominar os outros, utilizando intimidações verbais ou físicas. Escolhem como vítima, preferencialmente, alguém que lhe pareça frágil e possa ser visto pelo grupo que ele, autor do bullying, domina como “diferente”. Enfim, quem pratica o bullying escolhe uma vítima que não consiga que os outros saiam em sua defesa, que não lhe ofereça resistência, não revide e não seja capaz de denunciá-lo.
Para praticar o bullying, essas crianças e adolescentes adotam uma série de estratégias, entre as quais:
· colocam em suas vítimas apelidos pejorativos;
· fazem comentários maldosos, calúnias, gozações;
· criam piadas jocosas preconceituosas;
· fazem insinuações, ridicularizam a sexualidade de suas vítimas;
· difamam, inventam mentiras;
· laçam olhares intimadores, debochados e depreciativos a suas vítimas;
· não conversam com suas vítimas;
· excluem suas vítimas dos jogos, brincadeiras e participações em eventos sociais;
· realizam invasões e ataques virtuais;
· danificam o material escolar de suas vítimas;
· roubam os pertences de suas vítimas;
· extorquem dinheiro, cobram “pedágios”;
· batem, empurram, estendem as pernas para suas vítimas tropeçarem.
As crianças e adolescentes que praticam o bullying divertem-se às custas do sofrimento do outro. Geralmente, apresentam uma postura arrogante e passam uma imagem de “força egóica”. Demonstram superioridade e costumam ser populares na escola. Estão, frequentemente, debochando de tudo e de todos. Seus seguidores costumam achá-los divertidos. Escolhem suas vítimas como alvo de suas “palhaçadas”. Muitos agressores mentem em casa de forma convincente: para os pais as reclamações que são feitas pela escola, vizinhos, irmãos, empregados domésticos, entre outros, não parecem consistentes. Quem pratica o bullying consegue ser, constantemente, bastante manipulador.
Os estudos indicam nos meninos que praticam o bullying uma maior predominância das ações físicas, verbais e materiais. As ações dos meninos que praticam o bullying costumam ser mais físicas e, por esse motivo, mais visíveis. Eles batem, xingam, gritam, empurram, chutam... Já as meninas utilizam mais as ações morais. O problema, dessa forma, apresenta-se de forma mais velada. Uma das táticas mais comuns para infernizar a vida das colegas é a exclusão social: isolam a vítima de todas as atividades sociais que elas participam, não conversam com ela, fingem não conhecê-la. Além disso, é muito comum entre as meninas a tática de constranger suas vítimas pela depreciação: fofocam, fazem intrigas, inventam mentiras, ridicularizam, trocam olhares depreciativos, contam seus segredos aos outros.
São indícios de que uma criança ou um adolescente está praticando o bullying:
· chegar em casa com roupas amarrotadas e “ar de superioridade”;
· vangloriar-se de que é o “valentão” na escola, respeitado, temido;
· aparecer em casa com dinheiro e/ou objetos, argumentando tê-los “ganhado”;
· apresentar atitudes provocativas, hostil com outras crianças, irmãos, pais, dentre outros;
· provocar constantemente outras pessoas com brincadeiras e gozações, colocando apelidos pejorativos, chamando pelo nome e sobrenome de forma debochada ou intimatória;
· chamar os colegas com apelidos pejorativos ou pelo nome e sobrenome;
· utilizar da força física para atemorizar crianças mais novas ou fisicamente mais fracas;
· ter dificuldades de lidar com as diferenças pessoais, fazer discursos discriminatórios, preconceituosos;
· apresentar dificuldades para lidar com perdas e erros;
· dissimular atitudes transgressoras, valendo-se de argumentos “convincentes” com pais, professores.
Essas crianças e adolescentes que praticam o bullying, geralmente, apresentam em suas histórias individuais, vivências de situações de violência física e/ou psicológica ou de excesso de permissividade/falta de limites. Em algumas, nota-se a ausência de modelos positivos, com ações solidárias e fraternais: essas crianças associam as ações egoístas e maldosas a um meio de adquirir poder e status social. Muitas vezes, quem pratica a agressão vivencia problemas diversos nas relações familiares. Uma minoria revela traços que apontam para a transgressão como base de sua personalidade estrutural, do tipo perversa, cuja empatia, sentimento essencial para o exercício do altruísmo, está ausente.
Essas crianças e jovens têm grande probabilidade de apresentar desajustes em suas vivências sociais quando adultos e repetir padrões de comportamentos antissociais e violentos.
A realidade é que tanto vítimas, quanto os agressores necessitam de auxílio. Aos autores devem ser propostas ações que visem desenvolver comportamentos mais altruístas, evitando o uso de ações exclusivamente punitivas, tais como suspensões, expulsões, castigos etc, que acabam por rotular tais alunos - “os bullies” - e marginalizá-los.
As testemunhas do bullying.
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Há também os alunos que não praticam nem sofrem o bullying, mas presenciam os atos cometidos pelos alunos agressores de forma passiva e omissa. Não saem em defesa da vítima nem se juntam aos autores. Silenciam-se e tornam-se cúmplices da situação. São as testemunhas do bullying: representadas pelos alunos que sabem tudo, mas nada fazem, por medo e insegurança. Temem que se delatarem o autor, tornar-se-ão as próximas vítimas. Sentem-se confortáveis por serem vistas de forma não depreciativa pelos seus agressores.
(Material desenvolvido para o Programa de Prevenção ao Bullying na Escola. Núcleo de Atenção Psicossocial à Infância - NAPSI. Prefeitura de Sarzedo/MG).
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